domingo, 9 de agosto de 2009

A magia da aldeia....


As temporadas que passamos nas terriolas....nas parvalheiras, como designam uns....na província, como pretendem outros....são impagáveis....


A vida na aldeia não se compadece com stress....não existe espaço para isso....por isso, nem vale a pena lançar o tema na conversa de café do domingo à tarde....é tabú....afinal....quem é que sente stress quando anda de bicicleta....ou de mota...ou a pé....quando passa um carro de meia em meia hora (e isso é quando existe mais trânsito)....


É certo que comporta determinadas desvantagens....para inspirarmos um pouco de civilização precisamos pegar no carro e deslocarmo-nos até à vila ou cidade mais próxima....no entanto....sempre faremos com que as cabecitas que ocupam as cadeiras da esplanada do café de cima ou do café de baixo a virarem para o lado, com o intuito de intuir quem vai, quiçá, onde vai.....autênticos exercícios de quiromância provinciana, os quais darão para pelo menos mais uma hora de conversa....


As conversas dos mais velhos não fogem muito do tema crise....ou do tema doenças e formas de as combater....bem....também surgem uns pozinhos sobre quem faleceu....ou quem casou....geralmente não se fala em quem nasceu....talvez por ainda não assumir uma importância digna de ter uma casaca cortável....então....deixá-lo crescer....cá calharás....não te preocupes....


Todos conhecem todos....e quando não conhecem, logo indagam sobre os estrangeiros....ah pois....porque isto de viver em aldeia torna absolutamente imprescíndivel conhecer todos os habitantes....todos os vizinhos....sim....porque outra particularidade é que todos são vizinhos de todos....na minha aldeia somos todos "primos"....


Cresci a chamar prima e primo a toda a gente....como quem actualmente acrescenta ao meu nome o prefixo Dra, eu acrescentava Primo/a antes do nome da pessoa com quem falava.....é curioso crescer com a ideia de que se tem uma familia gigantesca....e quando mais tarde descobrimos que o grau de parentesco afinal era inexistente....ficamos meio confusos....até dá uma certa vontade de rir....no entanto recordo com carinho a ideia de que todas essas pessoas sempre me trataram como se eu fosse efectivamente familiar.....é curioso como os laços nessa altura eram tão fortes....sinto uma certa nostalgia quando recordo esses tempos....actualmente, estes laços não se constroem....não se sentem....as pessoas afastam-se....é pena que assim seja....enfim....mudam-se os tempos....e nada conseguimos fazer para contrariar a tendência....

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