terça-feira, 18 de agosto de 2009

Há festa na aldeia!!!!!!!!!!

Confesso que quando me convidam para passar uns dias em aldeias perdidas quer no norte, quer no sul, quer em Portugal, quer no estrangeiro....dificilmente resisto....sou aficionada no género....adoro descobrir algo sobre a cultura popular....adoro descobrir algo sobre as edificações, sobre as fontes, sobre os caminhos, sobre os edificios....perco-me pelas histórias que se contam....pelos mitos que perduram....pelas lendas que se alimentam....a minha mente começa a viajar no tempo....e o meu corpo agradece essa viagem....

Assim....em vésperas de viagem para a Índia...quando recebi o convite para passar o fim de semana nas festas de Gáfete....aceitei sem pestanejar....

Desde há uns tempos que ouço falar de Gáfete....e apesar de até sexta feira passada não conseguir localizar geograficamente a terra....confesso que me enriqueceu bastante a experiência de lá ter passado o último fim de semana....

A viagem começou de forma algo atribulada....um engano no acesso à A5....coisa pouca....uma viagem de cerca de 200 km até ao Alto Alentejo sem música, graças à conversa animada, que nos permitiu esquecer o imperativo da música....bem...isto até ao momento em que resolvemos acrescentar um ponto musical às recordações dos tempos de Coimbra....e para isso, nada melhor que ouvir fado....


Alguns km percorridos e eis-nos chegadas a Gáfete....



A placa sinalizadora não mentia....Gáfete, de facto saudava-nos....como vim a perceber alguns minutos depois....


Estacionamos e dirigimo-nos ao recinto das festas....afinal era esse o objectivo da deslocação: partilhar do ambiente festivo da aldeia....

Aí chegadas, a primeira impressão que me invadiu o espirito relacionou-se com o facto do mesmo se encontrar povoado por jovens numa percentagem de 90% dos "festeiros"....e embora me fosse dado a saber que a maior parte não eram residentes, é sempre interessante perceber que os jovens continuam a cultivar a ideia da imprescindibilidade de manutenção das respectivas raízes....aquela não é a terra onde nasceram....mas ali, sentem-se em casa....conhecem-se uns aos outros....e ali reencontram-se, na verdadeira acepção de reencontro da respectiva identidade....um facto curioso que recolhi na minha retina....e que apreciei....inclusivé, quando em conversa com uma moça que vive em França, percebi que não me havia enganadao, uma vez que a própria revelou o seu sentimento de pertença a um local que visita uma vez por ano.....e tal como ela, senti esse sentimento a pairar no ar e a impregnar muitos outros jovens que ali se encontravam.....

Numa sociedade do consumo imediato, como é a nossa actualmente, perceber que afinal as pessoas quando inseridas num determinado meio despojado do stress diário, da competição diária, se transformam, dançam e cantam....riem com gosto....mostram o melhor de si....entram num café e cumprimentam toda a gente que ali se encontra com um grande sorriso....e isso quando não apertam a mão a todos os presentes....um ambiente destes é quase impensável numa cidade....e se o fosse....sempre seria caricato....enquanto que ali, o mal visto será aquele que não grite um bom dia ou uma boa noite a quem passa.....regras de boa vizinhança....já esquecidas nos meios citadinos....caracteristicas que espero que prevaleçam....que perdurem....que nunca sejam esquecidas por aqueles que durante um ano inteiro, nem o vizinho da frente cumprimentam, por falta de hábito ou por vergonha....ou simplesmente porque não se usa e quem o faça possa ser rotulado como sendo possuidor de um qualquer transtorno da personalidade....enfim.... tenho para mim que as regras de convivência na sociedade talvez ganhassem com uma reciclagem feita nessas aldeias consideradas como "Portugal profundo".....

Escusado será dizer que nessa noite quase não dormi em virtude do calor infernal que se fazia sentir....e para quem costuma dizer que durante o verão, as noites mais quentes estão em Vilamoura....permitam-me ser a voz da discórdia....uma vez que passei as noites mais quentes dos últimos anos, precisamente em Gáfete....bem....em boa verdade, devo confessar que não foram apenas as noites as mais quentes....mas também os dias....parecia o inferno na terra.....

Tanto assim foi que, numa tentativa de sairmos da aldeia para dar uma volta até Castelo de Vide, ao ligar o ar condicionado, ficamos sem sistema de refrigeração no carro....o termostato rebentara e o caos abatera-se sobre as nossas cabeças....ali nos encontravamos, confinadas ao calor ardente da aldeia....ora bem....puxava para a cerveja fresquinha no recinto da festa....e se bem se pensou....melhor se concretizou....a boa disposição reinante entre os presentes....um recinto bastante composto....mais uma mini....uma brasileira que abria as hostilidades da segunda noite de festa.....as crianças (muitas) a animarem a coisa....uma açorda com ovo absolutamente deliciosa....mais uma mini....e mais outra....e ainda outra.....umas histórias sobre o castelo do qual não existiam quaisquer vestígios, mas o qual parece ter existido na aldeia enquanto paliçada que revestia uma estrutura defensiva.....uns pessegos que pareciam ser viciantes....mais uma história sobre a menina Zaia e a menina Fernanda.....mais uma mini.....Ui....o que é aquilo?? Gelados para cão?? nunca antes visto....e um verdadeiro fenómeno....mais um tipo muito bem disposto que envergava um megafone e animava a festa enquanto o grupo de baile ia tocando....uma versão do "Aperta com ela" coreografada de uma forma que dificilmente esquecerei....mais uma rodada de minis....e lá estão elas a brotar de grades....sim....é oficial....nas festas de Gáfete as minis brotam de grades geralmente vermelhas....como se de cogumelos se tratassem...prontas a ser colhidas pelo próximo festeiro sedento....ah....a hora de ir embora...por esta noite a festa está feita....vai uma fartura??



Último dia de festa....a ver a vida a andar para trás pois não sabia o que a Luna estaria a fazer cá em casa....poderia ser um pouco de tudo....desde destruição massiça....a uma fuga desesperada....a rabichinha nunca tinha estado sózinha nesta casa e confesso que estava a recear que cometesse uma loucura....pelo que, já me imaginava voltar na camioneta das 5 para Lisboa....

No entanto, tal receio não me impediu de ficar mais um dia....mais um almoço que comprovou que no Alentejo se come muito bem....mais um convivio recheado de histórias de antigamente, regadas por rostos saudosos....em que fomos até às piscinas naturais da Portagem, local bastante agradável em mais um dia infernal...mais um passeio até à fonte da aldeia......mais uma noite....mais uma noite muito divertida e uma vez mais em excelente companhia....em que uma vez mais comprovei que nas festas de Gáfete as minis nascem de grades de cerveja estrategicamente colocadas ao longo do recinto, como se de cogumelos se tratassem....em que comi um franguinho que me soube pela vida (andava com desejos de um bom frango há imenso tempo....e nessa noite finalmente matei o desejo)....em que acabei a noite à porta de uma padaria a regalar-me com uma espécie de pão doce denominado de bolema e que me reconfortou o estomago aturdido pelos excessos.....e pronto....por está a festa feita....



No regresso.....ao passar pela placa de despedida reparei num portão aberto....tal como as portas das casas de quem nesta terra me recebeu de braços abertos......ficou o registo de um fim de semana fantástico....ficou um natural encanto pela simplicidade de uma terra....ficou a promessa de um regresso....ficou não um adeus....mas um até à próxima.....;)






2 comentários:

  1. Há uns meses que não vinha ao meu blog, porque deixou de me apetecer escrever... pois hoje lembrei-me de vir ao menos cuscar o que o pessoal tem escrito...
    A placa de Gáfete chamou-me a atenção lol! Pois Gáfete fica a 5 minutos da minha casaaaaaaa lol
    Olha, tão perto e tão longe estiveste da minha pessoa...
    Captaste a essencia do que se vive por estes lados... sem duvida alguma que marca qualquer um pelo lado humano... ;)
    Beijinhos e volta sempre :)

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  2. Bom, sendo assim: Welcome.

    E esperamos que pessoal com a mesma capacidade de observação e gosto em conhecer estes "fins do mundo" continuem a desaguar por ali :D

    Deseja-se um regresso breve!

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